A Síndrome de Rett é uma desordem neurológica de origem genética, mais comum em meninas, caracterizada por atraso no desenvolvimento motor e cognitivo após um período inicial de desenvolvimento normal. Além de perda progressiva de habilidades motoras, comunicação e uso intencional das mãos, a condição também envolve desafios na respiração e uma maior tendência a convulsões. No contexto anestésico, esses fatores demandam cuidados especiais para minimizar riscos e garantir a segurança do paciente.
1. Características Respiratórias na Síndrome de Rett
1.1 Irregularidades no Padrão Respiratório
Pacientes com Síndrome de Rett podem apresentar:- Episódios de apneia (paradas respiratórias transitórias).
- Hiperpneia (respiração acelerada).
- Hiperventilação intercalada com apneias.
1.2 Repercussões e Cuidados
- Monitoramento rigoroso de oxigenação e capnografia é indispensável para detectar precocemente hipoventilação ou apneia prolongada.
- Posicionamento adequado e suporte de vias aéreas (máscara laríngea, entubação, se necessário) devem ser preparados para contingências.
- Redução de estímulos ou uso criterioso de sedativos pode ajudar a evitar exacerbação das alterações respiratórias em indivíduos hipersensíveis a manipulações ou fármacos.
2. Risco de Convulsões e Manejo Anestésico
2.1 Incidência de Epilepsia
Muitas pacientes com Síndrome de Rett desenvolvem epilepsia em diferentes graus de gravidade. O risco de crises convulsivas, tanto em contexto basal quanto no intraoperatório, aumenta devido a:- Alterações neuroquímicas subjacentes à doença.
- Possíveis interações de anestésicos com medicações anticonvulsivantes em uso crônico.
2.2 Estratégias para Prevenir Crises
- Revisão Farmacológica: Antes do procedimento, a equipe anestésica deve avaliar cuidadosamente a medicação anticonvulsivante em uso, ajustando horários para evitar lacunas que possam precipitar crises.
- Escolha de Agentes Anestésicos: Alguns fármacos podem reduzir o limiar convulsivo, enquanto outros são considerados mais seguros (p. ex., agentes com menor propensão a desencadear crises).
- Monitorização Neurológica: Em pacientes com histórico de epilepsia severa, considerar a monitoração da atividade elétrica cerebral (por exemplo, BIS ou EEG contínuo) no intraoperatório, se viável, para detecção precoce de atividade epileptiforme.
3. Planejamento Pré-Anestésico
3.1 Avaliação Multidisciplinar
- Consulta pré-anestésica detalhada: Históricos de crises convulsivas, frequência, tipo de medicações anticonvulsivantes, padrão respiratório e quaisquer complicações recentes devem ser levantados.
- Avaliação cardiopulmonar: Condições como escoliose podem impactar a capacidade pulmonar, dificultando a ventilação durante a anestesia geral.
3.2 Orientações à Família e Cuidados
- Explicar o procedimento: A família deve ser informada sobre riscos, estratégias de proteção respiratória e o manejo de crises, tranquilizando e engajando os cuidadores.
- Jejum e medicações: Ajustar jejum anestésico, orientando a administração de anticonvulsivantes até próximo ao procedimento (quando possível, com pequena quantidade de água) para manter níveis plasmáticos terapêuticos.
4. Condução Anestésica e Vigilância
4.1 Indução e Manutenção
- Monitorização intensificada: Capnografia contínua, oxímetro de pulso e ECG, além de pressão arterial não invasiva ou invasiva (conforme o caso).
- Uso criterioso de sedativos: Preferir agentes que não agravem hiperexcitabilidade ou depressão respiratória exagerada.
- Proteção de via aérea: A abordagem respiratória (máscara laríngea ou entubação traqueal) será guiada pela condição respiratória e o tipo de cirurgia. Pode ser essencial em caso de grande variabilidade do padrão ventilatório.
4.2 Controle de Convulsões Intraoperatórias
- Fármacos de resgate: Ter à mão benzodiazepínicos de ação rápida (por ex., midazolam IV) para abortar crises agudas.
- Correções hidroeletrolíticas: Manter o equilíbrio ácido-base e glicemia, pois instabilidades metabólicas podem precipitar convulsões.
- Temperatura corporal: Febre ou hipotermia podem desestabilizar pacientes neurológicos; manter aquecimento e checagens regulares.
5. Recuperação Pós-Operatória e Orientações
5.1 Transição Segura
- Observação prolongada na sala de recuperação ou UTI, dependendo da complexidade do procedimento, para monitorar estabilidade respiratória e possíveis crises.
- Retorno às medicações anticonvulsivantes o mais rápido possível, para evitar redução dos níveis séricos que propiciem convulsões.
5.2 Equipe Multidisciplinar
- Enfermeiros e fisioterapeutas devem estar cientes das peculiaridades, auxiliando na prevenção de atelectasias e na mobilização precoce (se indicado).
- Contato com neurologista: Em caso de crises persistentes ou ajuste de medicação anticonvulsivante, a comunicação entre anestesiologista e neurologista do paciente é fundamental.
Conclusão
O manejo anestésico de pacientes com Síndrome de Rett requer atenção especial às irregularidades respiratórias e à alta incidência de convulsões. A estratégia inclui avaliação prévia minuciosa, escolha cuidadosa de agentes anestésicos, monitorização intensificada e pronta disposição de fármacos anticonvulsivantes de resgate. Ao mesmo tempo, o cuidado integrando família e equipe multidisciplinar ajuda a minimizar riscos e a promover melhor recuperação pós-operatória, levando em conta as especificidades de cada paciente e garantindo uma experiência anestésica mais segura e humanizada.Avaliação pré-anestésica
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