Anestesia e Síndrome de Marfan: Considerações Neurológicas e Vasculares

A Síndrome de Marfan é uma doença do tecido conjuntivo de origem genética, com expressiva repercussão no sistema cardiovascular, musculoesquelético e neurológico. Seu manejo anestésico requer abordagem meticulosa, com atenção especial às possíveis complicações vasculares — como dissecção aórtica — e às alterações anatômicas que afetam o sistema nervoso central e periférico.

 

🫀 Implicações Vasculares: Risco de Dissecção e Instabilidade Hemodinâmica

A principal preocupação em pacientes com Marfan é a fragilidade da parede vascular, em especial da aorta ascendente, predispondo a aneurismas e dissecções espontâneas. Procedimentos invasivos ou até pequenas elevações na pressão arterial podem desencadear eventos catastróficos.

  • Monitorização hemodinâmica contínua é obrigatória, mesmo em procedimentos de menor porte.
  • Evitar hipertensão durante a indução e o despertar da anestesia.
  • Considerar o uso de betabloqueadores no pré-operatório para controle pressórico e frequência cardíaca.
  • A presença de cirurgia vascular prévia deve ser cuidadosamente avaliada com exames atualizados.

 

🧠 Considerações Neurológicas: Dural Ectasia e Risco de Bloqueios Mal Sucedidos

Pacientes com Marfan frequentemente apresentam ectasia dural lombossacral, que pode levar à falha de bloqueios raquidianos e peridurais, além de alterações no volume de distribuição dos anestésicos locais.

  • Avaliar com ressonância magnética prévia, sempre que possível, a anatomia do canal medular.
  • Considerar que a técnica peridural pode exigir volumes maiores, enquanto bloqueios raquidianos podem ser imprevisíveis.
  • Evitar punções repetidas e traumatismos neurais em uma medula potencialmente vulnerável.

 

💉 Abordagem Anestésica Personalizada

A escolha da técnica anestésica deve considerar o tipo de procedimento, os riscos vasculares e a anatomia do paciente.

  • Em procedimentos menores, anestesia local com sedação leve pode ser preferível, evitando instabilidade hemodinâmica e bloqueios neuraxiais incertos.
  • A anestesia geral deve incluir indução suave, manutenção hemodinâmica rigorosa e cuidado com hipervolemia ou hipovolemia.
  • Evitar manobras que aumentem a pressão intratorácica ou abdominal, como intubação traumática ou ventilação com pressões elevadas.

 

👩‍⚕️ Cuidados Pós-Operatórios

O risco de complicações cardiovasculares continua elevado no pós-operatório, exigindo monitorização contínua em sala de recuperação ou UTI, conforme a complexidade do caso.

  • Controle rigoroso da pressão arterial nas primeiras 24-48 horas.
  • Atenção a sinais de dissecção tardia ou isquemia.
  • Monitoramento da dor para evitar picos pressóricos indesejáveis.

 

✅ Conclusão

O paciente com Síndrome de Marfan exige um planejamento anestésico altamente individualizado, baseado em avaliação cardiovascular prévia, atenção à anatomia neuraxial e estratégias que evitem flutuações hemodinâmicas. O trabalho conjunto com cardiologistas, geneticistas e neurologistas é fundamental para garantir segurança e bons desfechos.

Artigos Relacionados

A Doença de Tay-Sachs é uma condição genética rara, causada pela deficiência da enzima beta-hexosaminidase…

Leia Mais

A Doença de Tay-Sachs, um distúrbio neurodegenerativo raro e progressivo, impõe grandes desafios à equipe…

Leia Mais

A Síndrome de Marfan, além das manifestações cardiovasculares conhecidas, traz alterações significativas no sistema musculoesquelético,…

Leia Mais

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *