Uso de Bloqueios Regionais na Esclerose Múltipla: Sim ou Não?

A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso central, gerando lesões desmielinizantes e um amplo espectro de manifestações clínicas. Uma das principais questões no contexto anestésico é se bloqueios regionais (periféricos ou neuraxiais) podem ser uma boa opção — ou se comportam riscos adicionais de exacerbação da doença. A seguir, analisamos os principais pontos a considerar. 

1. Por que a Controvérsia?

A preocupação gira em torno da possibilidade de que a punção neuraxial ou a injeção de anestésicos locais possa desencadear ou agravar surtos de Esclerose Múltipla. Alguns relatos associam bloqueios raquianos ou peridurais a exacerbações, mas as evidências ainda são limitadas e não há consenso absoluto na literatura. Em contrapartida, os bloqueios periféricos costumam ser vistos de forma mais tranquila, pois atuam em nervos fora do eixo central, apresentando menor risco teórico de afetar lesões desmielinizantes. 

2. Benefícios dos Bloqueios Regionais

  • Redução da Exposição Sistêmica a Fármacos: Pacientes podem ter analgesia segmentar eficaz, sem necessidade de altas doses de analgésicos opioides ou agentes voláteis.
  • Menor Interferência Hemodinâmica: Quando bem executados, os bloqueios regionais evitam oscilações que podem surgir com a anestesia geral.
  • Analgesia Prolongada: Em muitos casos, o bloqueio regional assegura conforto no pós-operatório, minimizando o estresse que poderia potencialmente agravar sintomas na EM.
 

3. Riscos Potenciais

  • Neuraxial e Exacerbação: O bloqueio raquiperidural levanta mais suspeitas de associações com surtos de EM em comparação a técnicas periféricas. Apesar de não haver contraindicação absoluta, há relatos de exacerbações.
  • Injeção Intraneural: Em bloqueios periféricos, deformidades ou comprometimento sensitivo podem mascarar lesões iatrogênicas. O ultrassom surge como aliado para evitar esse problema.
  • Hipotensão e Hipertermia: Fatores como hipotensão prolongada ou hipertermia (o fenômeno de Uhthoff) podem precipitar crises, devendo ser cuidadosamente controlados.
 

4. Fatores para Decisão

  1. Histórico Clínico: Se o paciente apresenta EM estável, em remissão, e sem déficits severos, o risco de exacerbação se reduz.
  2. Tipo de Cirurgia: Procedimentos limitados a extremidades podem ser abordados com bloqueios periféricos, evitando bloqueio neuraxial.
  3. Preferências do Paciente: Alguns pacientes podem temer a técnica neuraxial devido a informações de risco, enquanto outros se beneficiam do conforto de uma anestesia regional.
 

5. Recomendações Práticas

  • Avaliação Neurológica Prévia: Conhecer se há surtos recentes ou sintomas intensos. Conversar com o neurologista do paciente.
  • Uso de Ultrassom: Em bloqueios periféricos, auxilia a localização precisa do nervo, evitando punções repetidas ou injeções intraneurais.
  • Técnicas com Baixa Concentração: Empregar volumes mínimos e concentrações reduzidas de anestésicos locais, mantendo analgesia eficaz sem exceder limites.
  • Monitorar Temperatura: Evitar hipertermia no transoperatório, pois pode agravar sintomas.
  • Suporte Multidisciplinar: Decisão compartilhada com neurologista, cirurgião e anestesiologista, alinhando a abordagem mais segura.
 

6. Pós-Operatório e Cuidados

Após o bloqueio, acompanhar a evolução do quadro neurológico, observando se surgem novos déficits sensitivos ou motores. A maior parte dos pacientes evolui sem problemas adicionais quando a técnica é executada adequadamente e sob monitorização rigorosa. Analgesia multimodal e fisioterapia precoce ajudam na recuperação, reduzindo o estresse cirúrgico e evitando fatores desencadeadores de crises. 

Conclusões

Em Uso de Bloqueios Regionais na Esclerose Múltipla: Sim ou Não?, não há resposta universal. Cada paciente apresenta um estágio e padrão de doença distintos, demandando análise individualizada. Quando considerados com cautela, bloqueios regionais, sobretudo periféricos, podem oferecer analgesia segura e eficaz, minimizando exposição sistêmica a fármacos — desde que adotados métodos de imagem (ultrassom) e volumes/lidocaínas adequados. A transparência sobre riscos e benefícios, além da colaboração multidisciplinar, possibilita uma abordagem anestésica eficiente, sem agravar a Esclerose Múltipla.

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