Introdução à Miotonia e Desafios Anestésicos
A miotonia caracteriza-se pela dificuldade em relaxar a musculatura após uma contração voluntária ou estímulo elétrico, sendo um sintoma-chave em diversas doenças neuromusculares, como a Distrofia Miotônica (DM). No cenário cirúrgico, tal fenômeno pode desencadear contrações prolongadas e espasmos dolorosos, prejudicando a ventilação e a estabilidade hemodinâmica. Em Miotonia e Uso de Relaxantes Musculares: Como Evitar Episódios de Rigidez Prolongada?, analisamos a relação entre bloqueadores neuromusculares — despolarizantes e não despolarizantes — e a predisposição à rigidez muscular anormal. A preparação anestésica abrange a escolha de drogas, estratégias de analgesia e monitorização neuromuscular para reduzir complicações associadas à miotonia.Pacientes com miotonias podem apresentar crise de espasmos musculares por frio, manipulações cirúrgicas, estímulos dolorosos ou uso de fármacos inadequados. Além disso, a fraqueza muscular que costuma acompanhar esse quadro agrava o risco de depressão respiratória e hipotensão no perioperatório. Logo, o anestesiologista adota condutas preventivas, como controle térmico rigoroso, analgesia multimodal e bloqueadores neuromusculares não despolarizantes de ação intermediária, monitorados continuamente, para mitigar episódios de rigidez prolongada.Fisiopatologia da Miotonia e Resposta à Anestesia
Em miotonias, as alterações nos canais iônicos do sarcolema, principalmente de cloro ou sódio, geram disparos repetitivos depois de uma despolarização, dificultando o relaxamento. Na Distrofia Miotônica tipo 1, por exemplo, a expansão de repetições genéticas influencia a transcrição de proteínas-chave, levando a esse comportamento elétrico anômalo. Quando agentes anestésicos, mudanças de temperatura ou estímulos cirúrgicos intensificam tal hiperexcitabilidade, surgem surtos de espasmos.Durante Miotonia e Uso de Relaxantes Musculares no bloco cirúrgico, a depressão respiratória ou sedação profunda pode mascarar a percepção inicial dos espasmos, até que se observem tremores, rigidez nos membros ou dificuldades no manejo das vias aéreas. Em alguns casos, a rigidez muscular pode avançar, comprometendo a função ventilatória e exigindo intervenções rápidas. O objetivo, então, é suprimir o reflexo miotônico e manter estabilidade neuromuscular, reduzindo crises que complicariam a ventilação mecânica ou a realização do procedimento cirúrgico.Riscos do Uso de Succinilcolina em Miotonias
A succinilcolina, por sua ação despolarizante, tende a exacerbar a miotonia, desencadeando contrações intensas e prolongadas. Em pacientes com miotonias, esse bloqueador despolarizante pode provocar episódios de rigidez tóraco-abdominal, dificultando a ventilação e o posicionamento do tubo orotraqueal. Em Miotonia e Uso de Relaxantes Musculares: Como Evitar Episódios de Rigidez Prolongada?, a recomendação é geralmente evitar a succinilcolina, pois a hipersensibilidade muscular pode conduzir a complicações similares à hipertermia maligna ou a surto de rabdomiólise (embora o mecanismo seja diferente).Caso se necessite de intubação de sequência rápida, bloqueadores não despolarizantes, como rocurônio em doses mais elevadas (1,0-1,2 mg/kg), substituem a succinilcolina, com posterior reversão por sugammadex. A ausência de fase despolarizante massiva impede o evento de rigidez miotônica severa, mesmo que a intubação possa demorar alguns segundos adicionais. Nesse cenário, a presença de monitorização invasiva e equipe treinada é crucial para contornar hipotensão ou arritmias que surjam por manipulações cardíacas reflexas.Bloqueadores Não Despolarizantes: Escolha e Monitorização
Em pacientes com miotonia, preferem-se bloqueadores não despolarizantes de ação intermediária (rocurônio, vecurônio, cisatracúrio) devido à menor probabilidade de desencadear espasmos. Todavia, devem-se atentar às doses e ajustar conforme a resposta neuromuscular — possivelmente em doses menores que a padrão, para evitar bloqueio excessivo e prolongamento do despertar. Em Miotonia e Uso de Relaxantes Musculares, a monitorização via TOF (Train-of-Four) orienta a administração incremental, minimizando o risco de overdosagem e consequente depressão respiratória pós-operatória.A reversão do bloqueio no final do procedimento, seja com neostigmina ou sugammadex (no caso de rocurônio), também exige cautela. Os anticolinesterásicos elevam a concentração de acetilcolina na junção neuromuscular, o que pode exacerbar a excitabilidade miotônica. Por esse motivo, muitos anestesiologistas preferem o sugammadex, que atua diretamente na inativação do rocurônio, sem interferir na neurotransmissão. Assim, assegura-se a restauração da força sem picos de miotonia.Controle da Temperatura e Prevenção de Espasmos
A manutenção da normotermia figura como outro pilar para controlar a miotonia. A hipotermia per se intensifica a hiperexcitabilidade das fibras musculares, disparando espasmos e tremores. Para evitá-la, infusões aquecidas, cobertores e ambiente cirúrgico ligeiramente aquecido são empregados. Em Miotonia e Uso de Relaxantes Musculares: Como Evitar Episódios de Rigidez Prolongada?, prevenir tremores no pós-operatório também é fundamental. Até calafrios leves podem deflagrar crises miotônicas extensas, levando a contraturas de musculatura axial e dificuldade respiratória.Nesse aspecto, a analgesia adequada e a sedação leve, caso seja necessário controlar tremores, são importantes. Além disso, a manutenção de um aquecimento coerente do paciente, evitando picos de vasoconstrição ou sudorese, colabora para a estabilidade neuromuscular. Se a dor estiver bem gerida e a temperatura for mantida, os episódios de rigidez muscular tendem a ser mínimos ou inexistentes.Analgesia e Estratégias de Sedação
Nos quadros de miotonia, a dor malcontrolada é um estímulo que pode intensificar os reflexos musculares. Assim, a adoção de analgesia multimodal, associando opioides de curta ação (remifentanil, fentanil em bolus fracionados), anti-inflamatórios não esteroides (quando apropriados) e bloqueios regionais de baixas concentrações para analgesia segmentar é parte da condução. Em Miotonia e Uso de Relaxantes Musculares: Como Evitar Episódios de Rigidez Prolongada?, sedar o paciente levemente para reduzir a ansiedade e a descarga adrenérgica também minimiza o desencadeamento de crises miotônicas.No entanto, é preciso vigiar para que a sedação não degenere em depressão respiratória. O ideal é empregar monitores como o BIS (Índice Biespectral) ou Entropia, caso a sedação seja profunda, e manter a capnografia se em regime de sedação monitorada. Pequenas doses de benzodiazepínicos (midazolam) podem atenuar a excitabilidade muscular, mas sempre com o olhar atento para não ultrapassar limites que prejudiquem a ventilação, especialmente se há também a presença de cardiopatia ou disfunção respiratória.Manejo de Crises Miotônicas no Intra e Pós-Operatório
Se ocorrer uma crise de rigidez prolongada, impedindo a movimentação cirúrgica ou dificultando a ventilação, algumas medidas prontas incluem intensificar a profundidade anestésica (bolus de propofol, por exemplo), aquecer mais o paciente e administrar benzodiazepínicos ou relaxantes não despolarizantes de curta ação. Em Miotonia e Uso de Relaxantes Musculares: Como Evitar Episódios de Rigidez Prolongada?, a monitorização continua da TOF para avaliar se ainda há bloqueio residual ou se é realmente miotonia não controlada.A hipertermia ou a elevação abrupta de ETCO₂ podem sugerir reações hipertermia maligna-like, demandando suspensão de agentes desencadeantes e possível dantrolene. Entretanto, a verdadeira hipertermia maligna não é tão frequente em miotonias, embora já existam relatos de quadros semelhantes. Após a contenção da crise, avaliar a função respiratória, pois a fadiga muscular subsequente pode exigir ventilação mecânica prolongada ou suporte não invasivo. O anestesiologista decide, com base em parâmetros clínicos e laboratoriais (CK, eletrólitos), se a internação prolongada na UTI é necessária.Abordagem Clínica e Exemplos de Prática
Certa vez, atendi um paciente com Distrofia Miotônica tipo 1 agendada para correção de fratura de rádio. A miotonia nas mãos era notável, mas optamos por bloqueio de plexo braquial guiado por ultrassom com sedação leve via bolus de propofol fracionados. Durante a imobilização do braço, ele não apresentou espasmos relevantes, graças ao controle térmico e à analgesia satisfatória. A monitorização da frequência respiratória e capnografia, mesmo em sedação, permitiu identificar pequenos aumentos do ETCO₂, corrigidos ajustando a profundidade e ventilando suavemente com máscara. O procedimento transcorreu sem rigidez prolongada e, no pós-operatório, apenas analgesia oral foi suficiente.Em outro caso, um homem de 40 anos com miotonia congênita necessitou de colecistectomia laparoscópica. Optamos pela anestesia geral com rocurônio, evitando succinilcolina. Houve leve rigidez na indução ao lidar com estímulos frios, mas rapidamente controlamos aquecendo o paciente e aumentando a profundidade anestésica. O pós-operatório não apresentou crise miotônica, confirmando que estratégias de analgesia, aquecimento e monitorização intensiva evitam surtos de rigidez persistente.Reversão do Bloqueio e Desfecho Pós-Operatório
Ao concluir a cirurgia, a reversão do bloqueio não despolarizante (se utilizado) deve ser feita com atenção, preferindo-se sugammadex (se bloqueio for a rocurônio ou vecurônio), que remove a droga do receptor sem elevar a concentração de acetilcolina. Os anticolinesterásicos (neostigmina) aumentam a disponibilidade de acetilcolina, o que pode, paradoxalmente, intensificar a miotonia. Em Miotonia e Uso de Relaxantes Musculares: Como Evitar Episódios de Rigidez Prolongada?, esse cuidado reduz os surtos musculares tardios e favorece a extubação segura, desde que a força respiratória se demonstre suficiente e o TOF ultrapasse 0,9.No pós-operatório, a aplicação de calor e analgesia eficazes continua prevenindo tremores e dor, potenciais gatilhos de contrações prolongadas. A fisioterapia respiratória precoce e a mobilização quando possível complementam o suporte, mantendo boa oxigenação e reduzindo o risco de atelectasias. Caso surja rigidez, o manejo imediato com benzoidiazepínicos ou opioides ajustados controla a dor e abranda o reflexo miotônico até que a homeostase seja restabelecida.Conclusões e Perspectivas Finais
Em Miotonia e Uso de Relaxantes Musculares: Como Evitar Episódios de Rigidez Prolongada?, ressalta-se que pacientes com miotonias enfrentam riscos específicos no contexto anestésico, especialmente ao interagir com bloqueadores neuromusculares despolarizantes como a succinilcolina. Optar por relaxantes não despolarizantes de ação intermediária, monitorar via TOF, manter temperatura adequada e oferecer analgesia multimodal são estratégias-chave para minimizar crises de miotonia. A anestesia venosa total (TIVA) também emerge como opção atraente, evitando a volatilidade de agentes que possam exacerbar a excitabilidade muscular.O futuro deve trazer abordagens ainda mais refinadas, como fármacos neuromusculares ultracurtos e monitorização elétrica detalhada, possibilitando um cuidado individualizado aos que apresentam miotonia. Entretanto, no estágio atual, o sucesso nasce do planejamento pré-operatório aprofundado, do monitoramento contínuo e da rápida correção de desequilíbrios desencadeantes de espasmos. Dessa forma, a anestesia transcorrerá com segurança, entregando maior conforto e qualidade de vida a portadores de miotonias, mesmo em intervenções mais complexas.Avaliação pré-anestésica
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