Anestesia e Queimaduras: Manejo Seguro e Perspectivas Atuais

Introdução à Relação entre Anestesia e Queimaduras

A queimadura, resultado de agressão térmica, química ou elétrica aos tecidos, gera não apenas destruição local da pele, mas também repercussões sistêmicas significativas. Em casos de queimaduras extensas, por exemplo, o organismo sofre com perda de fluidos, complicações infecciosas e um estado hipermetabólico que pode desestabilizar vários sistemas. No tocante à Anestesia e Queimaduras, o manejo torna-se complexo, pois envolve lidar com alterações fisiológicas graves, posicionamentos cirúrgicos desafiadores, áreas corporais sensíveis ou inviabilizadas para punções, além de um alto risco de infecções e dor intensa. Em especial, pacientes queimados costumam apresentar alterações na absorção e metabolização de medicamentos, impondo uma dose extra de vigilância ao anestesiologista.De maneira geral, o paciente com queimaduras severas ou moderadas pode chegar ao centro cirúrgico em condições bastante instáveis, requerendo cuidado multidisciplinar intenso. O anestesiologista deve, portanto, avaliar com atenção a extensão e a profundidade das lesões, o grau de comprometimento hemodinâmico e a presença de complicações como choque hipovolêmico, disfunções renais ou respiratórias. Ademais, fatores como a época da queimadura (fase aguda, subaguda ou tardia) influenciam a escolha de agentes anestésicos e de técnicas de analgesia.Por fim, durante os procedimentos de desbridamento, enxertia ou outras intervenções, a monitorização contínua é essencial para detectar rapidamente possíveis descompensações hemodinâmicas e metabólicas. Esse cuidado se reflete na adoção de métodos específicos de controle de temperatura corporal, volume circulante e cobertura antimicrobiana preventiva, sempre embasados em protocolos bem estruturados. Dessa forma, o diálogo entre Anestesia e Queimaduras busca assegurar que a assistência ao paciente queimado seja segura, eficaz e minimizadora de sofrimento, contribuindo para uma recuperação mais célere e um desfecho mais favorável. 

Fisiopatologia das Queimaduras e Implicações Anestésicas

As queimaduras provocam danos que variam de superficiais a profundos, de acordo com o agente agressor (térmico, químico, elétrico) e com o tempo de exposição. De modo geral, quando extensas (atingindo mais de 20% da superfície corporal total em adultos), desencadeiam uma resposta inflamatória sistêmica que se assemelha ao choque séptico: ocorre liberação maciça de mediadores como interleucinas, TNF-alfa e outras citocinas, provocando vasodilatação e permeabilidade capilar aumentadas. No âmbito de Anestesia e Queimaduras, essa perda acentuada de plasma gera hipotensão, podendo levar o paciente a um estado de choque hipovolêmico e a disfunções multiorgânicas.Outro elemento crítico é o catabolismo exacerbado — o estado hipermetabólico. O organismo do queimado se encontra em alta demanda de oxigênio e nutrientes para reparar tecidos lesados, elevar a termogênese e combater infecções oportunistas. Tal situação compromete a reserva fisiológica, dificultando que o paciente suporte grandes variações hemodinâmicas. A dor intensa, por si, estimula ainda mais a liberação de catecolaminas, podendo levar a taquicardia, elevação da pressão arterial ou, em alguns casos, exaustão e colapso circulatório, conforme a fase do tratamento.Além disso, no pós-queimadura, há predisposição à anemia por destruição de hemácias e redução do tempo de vida dos eritrócitos, elevando a suscetibilidade a hipóxia tecidual durante a anestesia. O edema extenso (generalizado ou localizado) dificulta a punção venosa, o posicionamento para bloqueios regionais e até a intubação orotraqueal, caso haja queimadura de face ou cervical. Em síntese, o anestesiologista, ao planejar Anestesia e Queimaduras, deve considerar tanto as alterações hemodinâmicas e metabólicas quanto a repercussão anatômica e funcional do acometimento cutâneo, ajustando fármacos e técnicas para manter segurança e analgesia. 

Avaliação Pré-Anestésica e Estabilização do Paciente Queimado

No período pré-operatório, é crucial investigar a extensão e a profundidade das lesões, muitas vezes descritas pela regra dos nove ou por tabelas específicas de superfície corporal. O anestesiologista avalia o estado de hidratação e perfusão, checando parâmetros como pressão arterial, frequência cardíaca, diurese, nível de lactato e hemoglobina. Na fase aguda das queimaduras (primeiras 48-72 horas), a administração de fluidos cristaloides ou coloides segue protocolos de ressuscitação, como a fórmula de Parkland, para prevenir choque hipovolêmico. Em Anestesia e Queimaduras, a importância de chegar ao centro cirúrgico com volemia minimamente recomposta não pode ser subestimada.Outro foco reside em identificar se o paciente apresenta queimadura inalatória, comum em incêndios. Nestes casos, há risco de edema de via aérea, intoxicação por monóxido de carbono ou cianeto, e danos ao parênquima pulmonar, podendo exigir suporte ventilatório antecipado. A radiografia de tórax e os níveis de carboxiemoglobina são úteis para definir a gravidade dessa agressão. Se houver suspeita de queimadura facial ou de orofaringe, a via aérea pode colapsar subitamente por edema, devendo o anestesiologista planejar intubação precoce ou com métodos alternativos (fibroscopia flexível).A nutrição e o estado imunológico também são essenciais de se considerar. Muitos pacientes já estão em tratamento prolongado ou apresentam infecções associadas às feridas. Logo, a antibioticoterapia profilática ou terapêutica e a correção de deficiências proteicas e vitamínicas tornam-se fundamentais para uma boa cicatrização e tolerância ao estresse anestésico. Assim, a estabilização prévia e a otimização hemodinâmica, quando possíveis, fazem parte de uma conduta ideal de Anestesia e Queimaduras

Interações Farmacológicas e Escolha de Agentes Anestésicos

A resposta do paciente queimado aos fármacos anestésicos pode se alterar de maneira considerável, especialmente se a queimadura for extensa e tiver mais de 24 horas. Na fase subaguda, por exemplo, a sensibilidade a bloqueadores neuromusculares não despolarizantes pode diminuir, necessitando de maiores doses para induzir o relaxamento muscular. Em contrapartida, a succinilcolina deve ser evitada após 72 horas de queimadura até, pelo menos, um ano depois da cicatrização completa, sob o risco de hiperpotassemia fatal. Essa recomendação justifica-se pela proliferação de receptores nicotínicos extrajuncionais em músculos desnervados, exacerbando a liberação de potássio quando a succinilcolina é administrada.Além disso, por conta do hipermetabolismo e de mudanças na perfusão tecidual, a metabolização hepática e a excreção renal de sedativos e analgésicos podem estar aceleradas ou imprevisíveis. O propofol, por exemplo, costuma apresentar uma farmacocinética alterada nesses pacientes. O uso de opioides, como fentanil e remifentanil, deve ser titulado atentamente, considerando o alto limiar de dor e a hiperalgesia decorrentes. Em Anestesia e Queimaduras, a analgesia robusta é essencial para que o doente suporte manipulações dolorosas, seja em desbridamentos ou enxertias de pele.No que tange à antibioticoprofilaxia, algumas equipes optam por regimes específicos devido à alta prevalência de micro-organismos resistentes no ambiente de cuidados de queimados. A nefrotoxicidade potencial de alguns antibióticos, porém, alerta para checagens frequentes da função renal, a fim de não agravar a já delicada homeostase. A adição de técnicas regionais pode ser difícil se as áreas cutâneas para punção estiverem danificadas, embora possam ser extremamente benéficas no manejo da dor pós-operatória. 

Definição da Técnica Anestésica: Geral, Regional ou Combinada

A maioria das cirurgias de grande porte em queimados (desbridamentos, enxertos expansivos, reconstruções plásticas) requer anestesia geral, dada a extensão corporal acometida e a imprevisibilidade do tempo cirúrgico. No contexto de Anestesia e Queimaduras, o anestesiologista muitas vezes recorre a técnicas de indução venosa (propofol, etomidato ou quetamina) associadas a opioides em doses adequadas, mantendo a ventilação controlada para assegurar a troca gasosa. Em casos em que há risco de queimadura inalatória, a entubação precoce e o uso de ventiladores com modos avançados podem ser necessários.Em intervenções de menor porte ou em áreas específicas, há possibilidade de empregar bloqueios regionais, como bloqueios de plexo braquial ou tronco nervoso para membros superiores ou inferiores, conferindo analgesia prolongada e reduzindo a exposição sistêmica aos anestésicos. Contudo, a execução de tais bloqueios exige avaliar se a pele no local de punção se encontra íntegra e livre de infecção. Caso contrário, a probabilidade de contaminação ou falha no bloqueio por cicatrizes e alterações anatômicas é real.A sedação monitorada em associação com anestesia local pode ser aplicada em procedimentos limitados, porém a dor frequentemente extensa do paciente queimado costuma requerer analgesia mais profunda. Em crianças, por exemplo, a realização de curativos é altamente dolorosa, o que leva à necessidade de anestesia geral curta com propofol ou sevoflurano via máscara, quando as lesões não impedem a ventilação simples. Assim, a adequação da técnica anestésica ao quadro clínico e ao porte da cirurgia assegura menor risco de descompensação e maior conforto no perioperatório. 

Abordagem Odontológica e Queimaduras de Cabeça e Pescoço

Pacientes com queimaduras na região de cabeça e pescoço podem apresentar deformidades de face, limitação de abertura bucal e retrações cicatriciais que dificultam o acesso intraoral. Em paralelo, a ansiedade elevada diante da dor e do trauma prévio complica a colaboração no momento do atendimento odontológico. Em tais casos, o uso de sedação leve ou moderada, com monitorização de oximetria e pressão arterial, pode viabilizar extrações, drenagens ou tratamentos restauradores. Quando a manipulação é mais extensa, a anestesia geral, por via nasal ou com fibroscopia, pode se tornar imprescindível.Na presença de queimaduras localizadas no dorso cervical ou na orofaringe, a via aérea corre maior risco de colapso ou edema. Portanto, a equipe deve contar com planos alternativos de intubação e manter vasopressores à mão para estabilizar a pressão arterial em caso de manipulação incômoda. Por outro lado, se a queimadura envolver o terço inferior do rosto, a região para punções de anestesia local pode estar inviabilizada ou infectada, demandando técnicas supraperiosteais mais elevadas ou uso de bloqueios no ramo mandibular acima da zona de lesão.O dentista e o anestesiologista, nesse contexto, unem esforços para garantir analgesia suficiente, evitando picos de dor e estresse adrenérgico que elevem a frequência cardíaca e a pressão arterial, prejudicando a perfusão em áreas lesadas. Assim, a orquestração de Anestesia e Queimaduras no ambiente odontológico envolve tanto a adaptação de abordagens anatômicas quanto a consideração das respostas fisiológicas do paciente queimado, sempre visando a segurança do ato. 

Manejo Intraoperatório e Monitorização Avançada

Em cirurgias de grande porte, a monitorização invasiva é indispensável no paciente queimado. O cateter arterial permite acompanhamento contínuo da pressão arterial e coletas de sangue para avaliar gasometria e lactato. O acesso venoso central, por sua vez, facilita o controle de reposição volêmica, sobretudo em cirurgias com perda hídrica considerável. Em alguns casos, avalia-se o uso de monitores avançados de débito cardíaco para regular a infusão de fluidos, evitando tanto a hipovolemia quanto a hiper-hidratação, que levariam a edema tecidual adicional.O controle térmico merece destaque: a hipotermia, por perda de barreira cutânea, é frequente no paciente queimado. Durante a anestesia, a combinação de vasodilatação farmacológica e exposição corporal agrava a perda de calor, predispondo a coagulopatia e pior cicatrização. Por isso, mantas térmicas, infusões de fluidos aquecidos e temperatura ambiente elevada são cruciais. Mas deve-se ter cuidado para não induzir hipertermia acidental, especialmente se a área de lesões for extensa.A ventilação mecânica precisa ser ajustada à função pulmonar — se há queimadura inalatória ou edema alveolar, a complacência pulmonar reduz e a troca gasosa complica. Modelos de ventilação protetora, com pressões e volumes correntes mais baixos, podem minimizar lesão adicional. Ademais, a analgesia balanceada, combinando opioides, cetamina (que preserva estabilidade hemodinâmica) e agentes adjuvantes, reduz a resposta nociceptiva e catabólica. Com essa monitoração e suporte hemodinâmico, Anestesia e Queimaduras podem ser conduzidas com maior segurança, preservando ao máximo as funções orgânicas e facilitando a reparação tecidual pós-cirúrgica. 

Experiências Clínicas e Lições Aprendidas

Uma situação exemplar foi a de um homem de 35 anos com 35% de queimaduras profundas em tronco e membros superiores, necessitando de enxerto de pele após duas semanas do acidente. Ele apresentava hiperplasia de receptores nicotínicos, impossibilitando o uso de succinilcolina devido ao risco de hiperpotassemia fatal. Optamos pela indução com etomidato, manutenção com sevoflurano em baixas concentrações e rocurônio em doses elevadas, monitorando o bloqueio neuromuscular. A reposição hídrica foi cautelosa, por meio de cristaloides aquecidos, e a analgesia incluiu fentanil e cetamina, visando estabilidade cardiovascular. O procedimento correu bem, e o paciente teve alta em poucos dias, com boa aceitação do enxerto.Outro caso envolveu uma criança de 6 anos com 15% de queimaduras há duas semanas, precisando de desbridamento de áreas infectadas. Recorrendo a uma anestesia inalatória com sevoflurano e ventilação sob máscara, a intubação pôde ser dispensada pela curta duração do procedimento e menor extensão de lesões faciais. Controlamos a dor com doses fracionadas de morfina, sempre atentos a eventuais flutuações de pressão e frequência cardíaca. A criança se manteve normotérmica graças a cobertores térmicos, e recuperou-se rapidamente, retornando à enfermaria no mesmo dia.Esses exemplos realçam a importância de conhecer os impactos fisiológicos de grandes queimaduras, adaptando a anestesia a cada paciente, seja adulto ou infantil. O cuidado no manuseio de fluidos, a analgesia equilibrada e a vigilância dos fatores desencadeantes de instabilidade definem o sucesso da abordagem em Anestesia e Queimaduras

Pós-Operatório e Reabilitação do Paciente Queimado

Encerrada a intervenção cirúrgica, a evolução do paciente queimado no pós-operatório demanda avaliações multidisciplinares. A vigilância frequente de sinais vitais e balanço hídrico detecta precocemente complicações como hipovolemia residual, febre infecciosa ou deiscência de enxertos. A analgesia precisa ser contínua e efetiva, pois a dor das queimaduras, especialmente em trocas de curativos, é extrema. Bloqueios regionais, bombas de infusão de opioides e analgesia adjuvante (paracetamol, gabapentinoides) reduzem a necessidade de altas doses de analgésicos, mitigando efeitos colaterais.No aspecto respiratório, a fisioterapia ajuda a expandir áreas pulmonares, evitando atelectasias ou pneumonia, principalmente se houve queimadura inalatória. Manter a fisiologia pulmonar otimizada beneficia a cicatrização das feridas, pois melhora a oxigenação tecidual. Para os enxertos de pele, o repouso e a proteção cuidadosa da área enxertada no pós-operatório inicial favorecem a aderência e a nutrição do tecido transplantado. Em Anestesia e Queimaduras, cada procedimento de desbridamento e enxerto pode se repetir várias vezes até que a cicatrização global se complete.O suporte nutricional intensivo, com oferta de proteínas e calorias adequadas, auxilia na síntese de colágeno e na recuperação muscular, crucial para tolerar procedimentos repetitivos. A reabilitação psicossocial também não pode ser ignorada: o trauma de queimaduras extensas afeta a autoestima e a interação social, exigindo acompanhamento psicológico. Diante da complexidade, o período pós-operatório se transforma em prolongado e delicado, durante o qual a ação conjunta de anestesiologistas, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e cirurgiões plásticos define a qualidade da recuperação final. 

Considerações Finais e Perspectivas Futuras

A convergência entre Anestesia e Queimaduras ilustra um dos desafios mais complexos dentro da medicina perioperatória, dado o estado hipercatabólico e a fragilidade fisiológica do paciente queimado. A condução anestésica eficaz requer um olhar abrangente sobre a extensão das lesões, os desequilíbrios hídricos e o potencial de instabilidade hemodinâmica ou respiratória. Técnicas anestésicas que combinam monitorização avançada, analgesia multimodal e abordagens livres de agentes potencialmente prejudiciais (como succinilcolina após a fase aguda) têm se mostrado bem-sucedidas.O futuro reserva inovações na reabilitação de queimados e no suporte à cicatrização tecidual, como o desenvolvimento de enxertos biossintéticos ou engenharia de tecidos, que podem reduzir a necessidade de desbridamentos repetidos. Além disso, a adoção crescente de sistemas de monitorização de débito cardíaco em tempo real ou ultrassom point-of-care otimiza a reposição volêmica e identifica precocemente complicações no intraoperatório. Procedimentos menos invasivos e a evolução de técnicas de sedação e analgesia digitalmente controladas também prometem contribuir para a segurança desses pacientes.Para aprofundar o tema, convido você, profissional de saúde ou curioso, a visitar meu Blog, onde discuto casos clínicos e atualizações em anestesiologia. Caso necessite de avaliação personalizada ou deseje encaminhar pacientes queimados para cirurgia, atendo no consultório localizado na Av. Dr. Arnaldo, 1887 – Sumaré – São Paulo – SP, com agendamentos via Telefone/WhatsApp: (11) 95340-9590 ou contato@ivanvargas.com.br. Em suma, unir conhecimento, prudência e técnicas modernas viabiliza conduzir com sucesso Anestesia e Queimaduras, oferecendo melhores prognósticos e qualidade de vida àqueles que enfrentam esse caminho de recuperação.

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